Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Monday, January 19, 2009

Sonhar vivendo



Sonhar vivendo


Um incenso de baunilha liberta um fumo branco e espesso
Transporta-me nas ideias enquanto me imagino a dançar
Como que levitado do sofá onde me encontro a relaxar
Espero por ti, ao som daquela nossa música especial
Imagino as letras ganharem forma no meio das tuas fotos espalhadas.


Neste fim de tarde, entram pela janela as luzes da noite
O amarelo fosco e enfraquecido dos lampiões da cidade
Entrelaçado pelo arco íris dos néons da publicidade
Dão um reflexo inebriante por entre as gotas do vidro embaciado
Com o dedo em riste e suspenso no ar, desenho o teu nome como um pecado.


Busco nos meus ficheiros mentais, como foi da última vez
A chama da lareira reluz nos meus olhos de quem sonha que vive
Lembro-me do que não me posso esquecer pois nunca te tive
E neste ambiente opaco do inconsciente que me empalidece a tez
Tapas-me os olhos com as mãos enquanto me beijas o rosto.


Não te senti chegar, talvez fosse do vinho tinto ou do cansaço
Mas o teu perfume está aqui no meio das minhas coisas e do meu espaço
Embrenhado nas folhas onde comecei a escrevinhar linhas tortas
O teu beijo arrepia-me e anula-me deixando-me entregue a um regaço
Esmagas-me, os teus dedos percorrem-me o peito como veludo de aço.


Agarrei-te meio perdido no rebolar suave pelo tapete.
De pernas entrelaçadas e despidas das vestes frias e húmidas.
A tua pele macia preenche-me os sonhos e os devaneios.
A roupa jaz perdida algures pela sala tal como o tempo
Tudo parou excepto os nossos corpos por entre a luz trepidante.


(...)


As mãos abrem-se lentamente enquanto a alma fumega
A tensão da carne dá lugar ao respirar pausado que se despega
Tudo vai parando de girar, e os pés frios regressando ao chão
E o que tens tu no final do dia para poder levar contigo?
A tua memória, as tuas palavras, o teu tesouro é o teu rosto são.


Reparas que à tua volta tudo permanece imutável.
Os mesmos cegos continuam à janela com a mesma Dor para lá dos olhos
O que tens tu no final do dia, senão uma garrafa de tinto
Uma lareira acesa e uns quantos esquissos espalhados como a vida.
Afinal estás só, mergulhado num sonho repleto de fotografias.


Vives a sonhar ou sonhas a viver...


Eugénio Rodrigues, Janeiro 2009
Foto de Rosalina Afonso

Sugestão Musical: The Script - The Man who can't be moved