Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Thursday, May 25, 2006

Perguntas-te se és feliz




Perguntas-te se és feliz

Perguntas-te se és feliz.
Gritas aos ventos pelo que sonhas,
Ainda que a tua voz seja emudecida pela força da espera.
Bradas com ardor no peito pelo que desejas,
Ainda que já não tenhas luz sequer para fugires.
Ficaste presa pelo teu sentimento
Arrastada e desesperada num momento
Imaginado na tua própria sombra
E de lágrimas para sempre embaciado.

Pergunta-te se és feliz.
Vociferas acordes côr de fogo
Raiados de um chumbo encarnado pelo sangue
Mas nem tu te ouves tal é a cegueira do teu coração
Tal é a surdez da tua alma ingénua.

Acreditas mesmo que a vida te fará feliz?
Agora já só sussuras para que por uma vez
O fado te deixe sair do engodo em que te fez cair.
Não clamas por um final diferente, desta feita feliz.
Pedes apenas pela tua dignidade perdida
Por alguém que se reveja no teu tempo
Um momento por todos esquecido
Onde não te sintas uma remadora só
Cansada de lutar contra marés invisiveis
De incentivos ténues e esperanças descoloridas.

Dir-te-ei que serás feliz,
Quando me disseres qual a cor dos teus sonhos.
Qual a verdade que se esconde por detrás de um sorriso
Diz-me se choras por Amor
Porque aí dir-te-ei que jamais serás feliz!

Eugénio Rodrigues
(foto de Rosalina Afonso)

Se...



Se...

Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate!
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.
Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua.
Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas...
Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida...
Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar!
A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer...
Gabriel Garcia Marquez, após tomar conhecimento de um cancro linfático
(foto de Rosalina Afonso)

Thursday, May 18, 2006

Crónica de filme "Sweet November"




SWEET NOVEMBER

Um filme que só passou ao lado dos mais distraídos.
Que dizer do aspecto da Charlize Theron? Conheci-a no filme "O Monstro" e nem me parecia a mesma. Bolas, ainda continuo a achar que devem existir duas “Charlizes” sendo que esta do “Sweet” está mais composta...
E o Keanu, muito bem mesmo. Afinal ele sempre consegue ser um ser humano absolutamente normal, sem “Neo's” nem “Advogados do Diabo”... E já vejo porque é que a critica é quase unânime em dizer que foi este filme que o lançou para a ribalta e o catalogou entre os melhores.
Quanto ao filme, fantástico.
Ora aí está uma forma sui generis de abordar o tema "amor" sem as lamechices de um "Titanic" ou de um qualquer filme do género com o Kevin Costner. É previsível, sem dúvida, mas a previsibilidade tem que ver com a própria vida porque às vezes também ela é previsível, sem que perca, no entanto, o seu encanto por causa disso. O filme é nu e cru, e se acaba da forma que acaba é porque a vida também não é sempre um mar de rosas onde tudo é bonito e cheira bem.
E tem o condão de nos por a pensar sobre os nossos problemas, que à lupa dos problemas de Sarah, ao cabo e ao resto, não são realmente coisa nenhuma.
Isto para além de ser um hino à vida, ao carpe diem e à forma como podemos esmifra-la, como se vivessemos o nosso último dia.
Quanto à banda sonora, um mimo, com Enya à mistura, está qualquer coisa!
Muito bom mesmo.
Imperdível
Eugénio Rodrigues

Wednesday, May 17, 2006

Não ficarás só...




Não ficarás só pois tens-te a ti

Sei que vais detestar-me
Tenho a certeza que me odiarás
Que passarás a ter as lágrimas
Como companheiras da saudade

Sinto que te magoarei
Seguro da tua dor e desgraça
A tua muleta será desmembrada
A tua porta ficará escancarada

Mas não posso mais voltar
Já não quero à casa regressar
No voltarei a ver-te despido
Das barreiras da intimidade

Perdoa-me pois não voltarei a casa
Sei que o teu sacrifício e a tua dor
Serão tuas companheiras de viagem
Serão páginas do passado que esquecerás

Em breve deixarás de te sentir só
Pois ter-te-ás como teu companheiro
Evitarás em breve de clamar por mim
Deixarás de sentir falta da minha presença

No posso é ficar mais nem um segundo
Só para que possas sonhar comigo
É um sacrifício que já não sustento
Ainda que tires a minha foto da tua parede

Por favor peço-te que me perdoes
Mas o teu calor gela-me as veias
O teu frio corta-me e seca-me a Íris
Se ficar, morrerei como o nosso amor

Tenho de fugir para bem longe
Fugir de ti e escapar de mim.
Sei que te dói na alma e no coração
Mas é altura de deixar falar a razão

Por favor, acredita que não te iludo
Verás que não tardarás a esquecer-me
E por certo acabarás por me agradecer
Por te libertar para uma vida melhor

Vai, voa para longe, para os antípodas daqui
Vais ver que esta nossa separação é uma benção
E que este nosso ultimo fôlego de coragem
Mais não é do que o raiar de um novo dia

O Sol que traz a vida vai continuar a nascer
E as estrelas continuarão cintilantes e a brilhar
Em breve voltaremos a ser felizes e realizados
Porque a vida é uma balsa repleta de surpresas

Se hoje me abominas e amaldiçoas
Amanhã serás o meu nobre irmão
Que me salvas e proteges dos impuros
Sempre pronto para me dar a mão

Ou então, perdurarei na tua memória
Como uma imagem de bons momentos
Imaculada e conservada religiosamente
Para que o fim jamais possa vencer o passado

Não permitirei que o epílogo destrua as lembranças
Há que preserva-las para que possamos renascer
Será sempre bom relembrar a tua voz e os teus olhos
Como parte do passado e não do futuro agonizante

Vai, que eu tenho de voar para longe
E sempre que quiseres lembra-te de mim
Como uma festa cheia de cor e luz
Que jamais poderá terminar
Eugénio Rodrigues
(foto de Rosalina Afonso)

Monday, May 08, 2006

Solidão



Solidão

A Solidão é um estado de alma
Não adianta quantas pessoas nos rodeiam
Porque só uma verdadeiramente nos interessa
Só a escolhida tem a panaceia para os nossos males.

A tristeza e a infelicidade pairam nos espíritos
Contagiam e destroem tudo o que os rodeia
Trazem as trevas, o deserto e a penumbra
Sem misericórdia por aqueles que se lhe atravessam.

Buscam incessantemente a dúvida
Procuram e realçam o ciúme e a inveja
Carregando consigo a insegurança
E prendendo o presente ao âmago do passado.

A Solidão não quer amigos nem comiseração
Apenas a solução para fugir de si própria
A solidão é egoísta e destruidora
De todos aqueles que tentam ajudar em vão.

O destino é queimar a consciência
È a letargia que tudo anestesia
È a amnésia que tudo esquece
È a morte que tudo acaba.

O futuro em nada interessa
A felicidade corrói e espeta
Tudo o que se vê aborrece
Onde quer que se esteja está-se sempre longe.

O seu destino é uma campa marcada
A sua face a todos repele
E por mais vestes com que se adorne
Jamais escapará ao estigma e repulsa social.

A amargura não tem limites.
È como uma dor que cresce dia após dia
É sentimento que transforma a vida
Num rosário infindável de tédio e desnorte.

Os dias sucedem-se
Nada confere alegria ou gosto pela vida
Nada dá gozo ou prazer
Só apetece acabar com o sofrimento.

Os dias passam a ser números soltos no calendário
Que se riscam sem glória ou distinções
As pessoas são estranhas caras e feições
Que em nada ajudam porque nada nos entendem.

E surge a indomável vontadede por um fim a tudo
Mesclado com a falta de coragem para desaparecer
Para extinguir a triste e dolorosa consciência
De que ainda faltam anos de solidão para viver.

Eugénio Rodrigues
(foto de Ana Borges in fotografia na net)

Friday, May 05, 2006

Crónica Filme - Crash



Crash (Colisão)

Por vezes, para nos sentirmos notados, ou simplesmente para provocarmos alguma reacção neste “cinzentismo” da vida, temos que tocar os outros, quase “bater-lhes” tal é a indiferença ou o alheamento a que nos sujeitamos na “roda viva” da vida.

Esta é a 1.ª grande ideia de Paul Haggis neste “enorme” filme a que deu o nome de “Crash” e que tão bem a arquitecta através de uma rede de cadeias em que a causa se mistura com o efeito, onde defende a ideia de que ninguém é inteiramente mau ou absolutamente bom, e que não nascemos com nenhuma dessas ideias, antes, somos animais que reagimos instintivamente contra uma sociedade que nos esmaga.

Este é um filme de pequenas histórias, todas elas muito bonitas, quase “lollaby’s”, em que as pessoas aparentemente odiosas são capazes dos gestos mais bonitos e aqueles que se comportam segundo os canônes normais do senso comum, capazes de ultrapassar essa ténue linha que os segura nos limites do normal.
Um detective cuja mãe lhe destroça a vida enquanto luta inutilmente contra o racismo, um polícia racista e vitima do racismo com um pai que lhe rouba a alegria da vida, um persa que brada contra a xenofobia enquanto ameaça um mexicano de arma na mão, um serralheiro mexicano que tudo engole para que a sua filha possa ter um pai e um futuro honrado, um advogado sem escrúpulos que molda ou é vitimado pela sua esposa, uma esposa irascível mas que mais não precisa do que alguém capaz de um gesto amigo com ela, para que ela própria se dispa dessa agressividade, um homem da televisão negro que se deixa domar pela sociedade racista e poderosa enquanto se revolta com um simples piscar de olhos, dois ladrões filósofos enraizados num profundo complexo de inferioridade, entre outros personagens que vão desfilando e mesclando ao longo deste filme brutal.

Paul Haggis retrata-nos uma sociedade onde todos engolimos qualquer coisa, por muito bons ou maus que sejamos, em função de uma posição social, do abuso de autoridade, do racismo, da chantagem, dos jogos de interesses, onde até o mais forte tem de ceder.
Tudo está sempre tão perto da violência, da agressividade, dos feitios impossíveis, e no entanto, apesar destas tragédias humanas, oferece-nos o outro “lado” dos bons e dos maus e a razão pela qual são assim, levando-nos a pensar que afinal o vilão é uma pessoa boa e aquele que se pugna pelo bem é alguém capaz de matar em determinadas circunstâncias.
Estas histórias provocam-nos um turbilhão de emoções que vão da revolta à paz, da lágrima ao sorriso num só “frame”.

Para ajudar, a arte de um filme bem construído com passagens de cenas fantásticas, de porta para porta ou de carro para carro e onde nem sequer falta uma bonita banda sonora que nos embala e nos transporta para as várias cenas e uma panóplia de grandes actores como Don Cheadle, Matt Dillon, Sandra Bullock, entre outros.
Vi no filme alguns pontos de contacto com o “21 Gramas” de Iñarrito e está, seguramente, no top 5 dos filmes de 2005.
Meus amigos, mais um filme absolutamente imperdível.

Eugénio Rodrigues - 26.09.05

Crónica Filme - Finding Neverland



FINDING NEVERLAND

Há duas formas de se sentir atraído para ver este filme, uma porque tem sete nomeações e outra, porque se está de alguma forma familiarizado com a temática da obra Peter Pan e se gosta.
Seja como for, só podemos sair de uma forma deste filme, ou seja, emocionados e até um pouco chocados com os vários dramas existentes no filme e que tão bem se interligam com a história de Peter Pan.
A exemplo de Peter Pan, este filme aborda questões tão nobres e ao mesmo tempo tão esquecidas como o são a infância. Pensamos como adultos, transformamos as crianças em adultos e deixamos que as crianças se transformem em adultos. O limiar da infância e da sua inocência que choca inevitavelmente com o momento normalmente duro e triste em que passamos a ver o mundo de outra forma. A beleza que se perde com a forma materialista de passarmos a ver o mundo, só se recupera à custa da imaginação, da capacidade de nos abstrairmos da realidade crua que nos circunda e da forma como olhamos para os pormenores da vida que nos tocam todos os momentos e que, esses sim, nos são capazes de dar a visão da alma. Viver também é fingir, é ver com outros olhos e buscar aquilo que deixamos de ver quando nos passamos a preocupar com o supérfluo. Esta realidade, para alguns, alternativa, está sempre lá, só precisamos de estar atentos aos pormenores.
J. M. Barrie, escritor dramaturgo magistralmente interpretado por J. Deep, é um homem, como a própria obra que dá origem ao filme se intitula, um "Homem que foi Peter Pan", que esteve atento aos pormenores e que ousou sê-lo. Tinha tanto de sensível como de génio e isso custou-lhe quase tudo. A História nunca muda e sempre trata mal os seus visionários. Estes foram ou serão, sempre incompreendidos.
Adjectivar este filme é muito difícil e inútil.
Chamo-vos a atenção para a sua fotografia e planos da câmara, como por exemplo, uma cena filmada do chão para o céu em que vemos J. Deep sentado debaixo de uma arvore, ou mesmo no final, quando se filma pelas costas, Peter sentado num banco de um extenso jardim.
Nota final para a interpretação de Peter, um miúdo de tenra idade que cresceu depressa demais.
Impossível não gostar dele, impossível não emocionarmos quando o vemos chorar, quando vemos uma criança assim a chorar.
Realmente muito bom.
Confesso que a obra Peter Pan sempre me passou um pouco ao lado, pelo menos nos seus detalhes mais tocantes, até porque estamos mais sensibilizados para o "Principezinho" de Exupery, ou o "Alquimista", de P. Coelho.
Porém, já escolhi a minha próxima leitura.
Será Peter Pan e a sua magia.
Eugénio Rodrigues

Crónica do Filme - Million Dollar baby



MILLION DOLLAR BABY

Era uma vez uma história sobre Boxe...
O meu comentário a Million Dollar Baby bem poderia começar desta forma. Poderia pensar que este filme era mais um sobre Boxe mas não é...

É uma bonita história de Amor.
É uma teia que nos agarra progressivamente a uma emotiva história de um pai que descobre, no meio de um mundo frio e duro como é o do Boxe, uma filha que nunca teve, um sentido para a vida que vai além de uma caixa repleta de cartas devolvidas ao remetente, dia após dia.
E mergulha-nos de tal forma neste drama, ao ponto de deixarmos de esboçar quaisquer sorrisos, não obstante os inúmeros e hilariantes “gag’s” que se vão sucedendo, mesmo até ao último take.

Mas este filme não é apenas uma bonita história de amor.
Não passaríamos disso não fora o elenco de actores que nos é oferecido. Um portento da natureza do calibre de M. Freeman. É um Senhor da 7.ª arte, mesmo num papel secundário, que ainda nos brinda com a narração omnipresente do filme, em voz off, exactamente como António Salieri em Amadeus, de Milos Forman, se bem se lembram, e que então mereceu um Oscar.
Uma Hillary Swank, absolutamente genial, numa interpretação a raiar a perfeição, e que vai do representar da mais entusiasta e enérgica ao comovedor estado vegetativo.
Um Clint Eastwood, no seu melhor, provando que Dirty Harry, detective quase mudo do passado, mais não é do que uma caricatura do monstro do cinema que é hoje este actor. Como o Vinho do Porto, quanto mais velho melhor.
Pois bem, e estes 3 actores são a receita simples do sucesso. Um empregado de ginásio, que é o coração e fiel da balança do seu patrão e treinador de boxe. Este último, alguém irascível, demolido pelas vicissitudes da vida e carcomido pelos remorsos mas capaz de um gesto de amor absoluto.
Uma pugilista, tão rebelde como a vida, “uma vencedora disposta a fazer aquilo que os perdedores nunca fazem”, alguém que quer ter a coragem, o gozo e o prazer de deixar de comer os restos que os outros deixam nos pratos, uma mulher com um coração do tamanho do mundo, tão enternecedora como incompreendida.

O filme é como o mundo do Boxe, cru e nu, ao ponto de ter um tom de verde desbotado e estar desprovido de banda sonora. E no meio desta nortada de sentimentos somos ainda empurrados para o tema da Eutanásia, uma espécie de clímax perturbador, que nos confunde, que nos divide, acabando por partir mesmo aqueles ou aquelas pessoas reputadamente insensíveis.
Meus amigos, poderia este filme, ainda que muito bom, não deixar de ser mais um filme, mas não é...

Realizar no final, que Maggie “respirou fora da tela”, que tudo o que vimos e sentimos é real, traduz-se num choque ainda maior, brutal quase.
Por isso, mais um filme imperdível.
Eugénio Rodrigues

Tuesday, May 02, 2006

Amar é...!


Amar

Amar é uma arte aqui ou em Marte,
Ou até na parte onde me sinta um alarve
Ao consumir-se sem entrave, uma realidade
Que tão mal nos faz com a verdade.
A insensibilidade nos fere
Golpes mortais nos desfere
Portais para uma vida que nos retém
Qual prisioneiro ou refém
Nos anais da pressão ou da sensação
Do abandono e falta de atenção.

Às vezes Amar é persistir e insistir
Em tudo afastar da ponta dos dedos
Para que o sentimento não seja um elixir
Conspurcado pelos inseguros medos,
Como ondas esmagadas nos penedos.

Às vezes Amar é verter lágrimas salgadas de fel
De um destino que julgamos ser de mel
Mas que depressa se desfez
Como a insanidade e a palidez
Dos moinhos de vento de D. Quixote,
Ou chama que se esvai do archote,
Castelos de areia levados pelas vagas,
Brancas, violentas e arqueadas
Furiosas porque destroem
Corajosas porque morrem
Sem nunca deixarem de chegar
A sua Praia, ao seu lugar,
Como o som cristalino do oboé
Dia após dia, maré após maré...

Amar são palavras revoltas
De partituras encantadas e soltas
Folhas separadas pela imaginação
E pedras esculpidas pelo coração.

Amar é perder sem esquecer
É perdoar sem magoar
É possuir sem tolher
É precisar sem esgotar
É desejar sem obcecar
É aguardar sem desesperar
É dar sem pedir e receber sem esperar.

Amar é ser belo e altivo
E no entanto, absorvente e destrutivo.
É não ter solução nem antídoto
Para a loucura sem tempo ou centímetro.
É ignorar as contra indicações
Listas de mágicas poções
Ideais ou livros de receitas
Dores, orgulhos e maleitas.

Amar é deixar de ser o “Eu”
Sem ter saudades pelo que morreu
E passar a ser o “Nós”
Dois corpos, duas mentes, e duas almas
Que se transportam com uma só voz.
Orquestra de instrumentos vários e errantes
Donde saem sons afinados, melodiosos e tocantes.
É tocarmos onde se escondem os segredos
E deixarmo-nos tocar sem freios nem medos
Como uma criança embalada no seu berço.

Amar é estar sereno
É repousar no mundo terreno
Nas copas das árvores esquecido
Enquanto respiramos os raios de Luz
Que cintilam por entre as folhas perfumadas
Trémulas com o vento e despregadas.

Amar é saber deixar e largar
Quando o outro assim o desejar
É entregar-nos a alguém sem demora
Mesmo sabendo que um dia se vai embora
E que no final do amor
Haverá sempre a tristeza do perder.

Amar é nunca deixar de acreditar
Que o amanhã é sempre melhor que o hoje
É fazer com que o presente nos encha de tal forma
Que o passado nos pareça sempre longínquo
Apenas um quadro colorido
Uma foto sorridente
De um momento fugaz e vivido
Mas que não tem a paixão
Nem a intensidade do movimento
Do pulsar irrequieto do coração
Nem da lágrima contida da emoção.

Mas Amar não é nada do que se fala ou se escreve
Porque quem ama sempre sabe de uma forma dramática
Que não conhece as palavras nem a língua que o descreve
As cartilhas dos verbos, adjectivos ou gramática.

Conhecemos o sabor do beijo
O Arrepio, a angústia e o prazer
Misturado com o alívio de nada saber
Excepto que num só se quer fundir
Porque Amar é acima de tudo... SENTIR.

Eugénio Rodrigues
(foto de Rosalina Afonso)