Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Thursday, February 07, 2008

Diferentes ou Indiferentes



Diferente


Nesta madrugada sem fumo nem cheiro a tabaco,
Decidi pensar ao relento sobre as diferenças do visível.
Estava eu a despentear-me desta luz que me cega o ego,
Fugindo aos néons vermelhos que me fazem parecer apetecível,
Quando noto que os holofotes te fazem dançar mais inebriada
Como que fugindo das sombras para saltar de flash em flash.
E fazendo de um banco de jardim o palco do Rivoli,onde rodopias empoleirada.
Nada é o que parece dizes-me tu, eu acredito no milagre de quem quer ver.


Sou assaltado todos os dias por uma multidão de rostos cinzentos.
Carregam a indiferença e a rotina da simples sobrevivência,
Bem expressas nas passadas que se dão e que se esquecem no final do dia.
Mas tu gostas de caminhar lá fora, entre os paralelos em que eu tropeço.
Consegues reparar no avental psicadélico do Vendedor do Destake.
Ou no Taxista que tira os macacos do nariz enquanto espera no Stop.
Ou mesmo no olhar de rapina dum Velhote que na paragem do Bus,
Devora com os olhos o traseiro da jovem que o precede na fila.


Ora! O mar está bravo, a praia gelada e o passadiço empestado de domingueiros.
Os Técnicos Auxiliares de Parqueamento Automóvel são insuportáveis.
E os cafés estão pejados de crianças birrentas e pais surdos.
Para não falar das pipocas fedorentas do cinema ou dos fatos de treino no shoping.
Mas tu gostas de pensar na vida agradável que queres ter.
Apontas para as conchas da praia que nesta altura são mais coloridas.
Ou para a fotografia que tiras aos calções de lycra do ciclista sexagenário.
E para o nariz farruscado da criança que come castanhas assadas.


Trânsito e semáforos de rapina que me fustigam com vermelhos exasperantes.
Conferências de tabagistas à porta do restaurante e a regueifa a um euro!
E aqueles cães ridículos com roupas cor de rosa aos quadrados e losângulos?
Mas tu reflectes nas gaivotas que alinham todas no mesmo sentido quando chove!
Nos Reis capazes de fazer a guerra e de escrever odes perfeitas sobre elas.
No jovem que adormece no comboio da noite e deixa pendurada a namorada na Estação.


Diferentes ou indiferentes, não sei!
Tudo o que eu quero é ser mais como tu e menos como eu.
Porque se eu não quero ser quem sou, pretendo pelo menos saber quem serei.
Mais do que me acordares, quero que me ensines a acordar por mim.
Mais do que me fazeres ver, por favor ensina-me a ver, sozinho!
Porque eu sei que tu consegues ser mais para mim do que eu próprio sou.


Eugénio Rodrigues, Fevereiro 07
Sugestão musical : Dj Tiesto – In the Dark http://br.youtube.com/watch?v=wP1jXzynHXE
Foto de Danilo Piccioni