Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Friday, April 21, 2006

A Opção


A Opção

Optar é uma constante da vida
É buscar o futuro no presente
É querer adivinhar o impossível,
E fugir ao destino que nos superintende.

A vida é um mar de alternativas
E as alternativas são o salitre da vida
Optamos porque queremos viver,
E vivemos porque assim optamos.

As opções não são más nem boas
Apenas ponderadas ou imaturas.
Ou nos saem do fogo do peito
Ou são-nos impostas sem preceito.

A nossa alma faz vitimas ao escolhermos
Tal como nos crucificam com opções que desconhecemos
Ora somos cegos porque egoístas
Ora altruístas porque somos pategos.

Não adianta rir ou desesperar
Pois se hoje somos nós os preferidos
Amanhã seremos nós os odiados
Sem nunca conhecer o padrão para amar.

A vida é um encontro de vontades
A morte é um cruzamento de tristezas
Quem pode escolher a verdade
Quem pode adivinhar felicidade.

Optar é desenhar no tempo
Linhas de intenções e bravuras
Como claves de sol em partituras
Feitas de algodão doce e canela.

Cedo se desvanecem no céu
Como os raios vermelhos do por do sol
Mais não resta senão a memória
Da cor dos olhos que nos fazem sonhar.

Haja o que houver,
A tua opção será sempre a melhor
Desde que venha da tua alma,
Tenha a cor dos teus olhos e a largura do teu sorriso.
Eugénio Rodrigues
(foto de Rosalina Afonso)

Thursday, April 20, 2006

Crónica Filme - Cidade de Deus


Cidade de Deus

Se alguém ainda não viu este filme, o que não acredito, adianto-vos que se trata de uma excelente produção brasileira, com actores amadores na sua quase totalidade e que mais não é do que um retrato inesquecível da vida numa favela.
“Buscapé” só queria ser fotografo de jornal.
“Buscapé” é a alcunha de um jovem negro, que nasce numa favela chamada Cidade de Deus, e cujo trajecto de vida vamos acompanhando, deliciados com os seus círculos paralelos de amizades e conhecimentos. Faz lembrar, de certo modo, “Era uma vez na América”, esse épico cinéfilo dos anos 80. Com frequentes flashbacks, com referências constantes em voz off do narrador omnipresente, à medida que vamos conhecendo as personagens e as teias que o filme faz, vamos percebendo que uma favela é um micro mundo, uma espécie de tubo de ensaio, onde, de uma forma intensa e concentrada, temos o que move este mundo, isto é, a luta constante entre o bem e o mal.
“Buscapé só queria ser alguém sem precisar “matar”.
Sem manicaísmos bacocos e contrastantes, pois nenhum mal é inteiramente mau nem nenhum bem é absolutamente bom, vamos constatando o frágil equilíbrio entre os bons e os maus, onde até “Buscapé” se vê tentado a procurar o respeito ou algo com que pudesse comprar a distinção, através de uma arma.
A Cidade de Deus vive de dois mitos, o “Zé Pequeno” que é a regra que anula a excepção e o “Mané Galinha”, a excepção que confirma a regra. O primeiro, alguém que em pequeno se habituou a matar e cujo amigo, “Bédé”, qual consciência, lhe vai temperando o instinto assassino. O segundo, que se converteu à Lei da Bala por uma fatalidade, e que apesar de não querer matar inocentes, cedo se apercebe que, neste mundo, se deixar os inimigos para trás e lhes virar as costas no leito da morte, em breve estes lhes saltarão à garganta. E de que maneira...
Numa favela, a justiça tem o peso de uma bala e o Bem sempre perde para o Mal pois este joga com um aliado de peso, a Sociedade, que estrangula e asfixia quem não quer seguir este caminho.
“Buscapé” só queria perder a virgindade.
Na favela, estes dois mitos são a Lei, são Deus, são o Tribunal, são a doutrina de que a Vingança e a Arma são uma só. São o axioma incontornável de que na favela só existe inferno e purgatório. Inferno daqueles que matam para vingarem um estalo, purgatório dos outros cujo crime os espera como um certo e fatal destino. Toda a gente vive directo do berço para a idade adulta. Toda a gente aprende às suas custas e normalmente da pior forma, da forma mais violenta, dura e brutal. Na favela vale tudo menos ser bom. Na favela ser culto é conseguir ler as imagens de um jornal. Na favela ser religioso é rezar antes de assaltar para que tudo corra pelo melhor.
Cidade de Deus tem planos incríveis e ângulos verdadeiramente excepcionais que aportam fielmente a expressão das personagens, a dinâmica do filme, e a velocidade a que a vida sempre passa.
“Buscapé” só queria ser Wilson Rodrigues, alguém com mais do que uma alcunha.

Eugénio Rodrigues - 20.03.05
(foto de Francisco Rodrigues)

Transparente


Transparente

Transparente, nu, entregue!
Faz frio mas o frio é bom.
O arrepio dá-nos a sensação de vida, faz-nos agarrar ao calor que tanto desejamos e nos faz sentir que apesar de desconfortáveis, essa sensação também consegue ser agradável.
O frio é leve, puro e alvo, tal e qual como a nossa alma.
Pode ser delicado, entorpecedor e obriga-nos sempre a recolhermo-nos sobre nós mesmos, mais do que a qualquer coisa.
O frio é tímido.
Vai percorrendo lentamente os nossos cabelos, o nosso rosto e os nossos membros, até que se entranha bem fundo, em todos os poros, paralisando-nos, e ainda assim, deixando-nos a lucidez para escaparmos de aquilo que não queremos realmente fugir.
Olhos no chão que procuram o segredo e mãos hirtas que não querem tocar o desejo.
Fechados em nós e encolhidos pelo ensejo, recolhidos pela nudez mas perfeitos no amor.
Delicado, sincero e verdadeiro.

Eugénio Rodrigues
(foto de autor desconhecido)

Sorri



Sorri

Sorri
O teu sorriso é o néctar apaixonado de uma flor que quer repousar no jardim da tua vida.
Sorri
O teu sorriso move montanhas e atrai as energias de quem se arrasta pelo pó do seu próprio estro.
Sorri
O teu sorriso espelha a tua beleza cristalina e leve como a pureza da tua alma.
Sorri
O teu sorriso traz as cores do Arco Íris que irradiam pelas gotículas do orvalho perfumado da primavera
Sorri
O teu sorriso é um pedaço de alegria, qual criança que quer mostrar o seu desenho mais bonito.
Sorri
Porque sorrir não custa nada, não demora um segundo, mas fica para todo o sempre.

Eugénio Rodrigues

(foto de autor desconhecido)

Wednesday, April 19, 2006

Vertigem




Vertigem

A vertigem é a imensidão do teu pensamento.
O que tu alcanças tem as hastes das tuas ideias.
Os teus sonhos limitam a tua realidade mas dão-te igualmente o sal que tu precisas para tomares o gosto à vida.Tua crias a tua vertigem. Esta é o que os teus olhos cativam, é o que os teus ouvidos agarram. Prende-te no que escutas aos ventos, no que vês lá longe no horizonte, bem para lá do teu espelho.
A vertigem é uma linha que desejas mas não controlas, são limites que queres bem difusos e no entanto, bem rentes de forma a que não te assustes com aquilo que escapa ao teu tacto. Desejas novos sons mas só os velhos te dão segurança. Queres novas cores e rostos diferentes mas foges dos teus pressentimentos. A vertigem é um obituário emaranhado de vidas, uma prisão de sorrisos das tuas memórias distantes e um livro de lábios entrelaçados que ainda terás de beijar para que sejas feliz. A vertigem é o que tu queres que seja, contigo no futuro, perdido algures naquilo que não tocaste nem nesta vida, nem no teu imaginário.
Ora queres a tua vertigem só para ti, ora desejas ardentemente partilha-la com quem quer estar contigo mas que desconhece os desígnios da tua alma. Aí a vertigem esmaga-te, a ti, aos teus cânticos, ao amor e as tuas melodias sobre o encanto do desejo. Aí na vertigem deixa de haver lugar para tudo, para nada, para a tua poesia, para as tuas memórias e sonhos desvanecidos. Aí a vertigem dilui-se como as tuas energias, esfuma-se como as tuas esperanças, desintegra-se como o teu amor e eclipsa-se como a tua vida. Em suma, a vertigem é boa, a vertigem é má.
A vertigem pode ser intrínseca e implodir-nos e a vertigem pode ser um turbilhão incontornável que nos leva para uma guerra que não é nossa. A vertigem pode ter um rosto, uma voz, uma mão que nos dá a provar o doce sabor de outra dimensão, mas também podemos ser nós próprios, estonteantes e parte integrante de tortuosos caminhos de outros corações, ou alguém que lhes toca na sua essência.
A vertigem é alucinação quando procuramos matar a sobriedade que há em cada um de nós e que nos impele a pisar sempre as mesmas pedras, a respirar sempre o mesmo ar, a olhar sempre pelo mesmo angulo, a escutar apenas as palavras que queremos ouvir. A vertigem é enebriante quando lhe sentimos o gosto e o cheiro. Quando descobrimos que a vertigem dá em si mesma novos planos da nossa existência, quando nos obriga a olhar em vez de ver, quando miramos uma cor de dentro para fora, quando uma nota musical se materializa na nossa frente. Pode não ser real, mas passa a ser possível, ainda que apenas no intimo da nossa vertigem.
A vertigem é esfuziante, pois obriga-nos a viver um minuto num segundo, rouba-nos as nossas forças e esgota as nossas vontades tudo porque, quando deparados com a vertigem, lutamos por ficar de pé, quando o que a vertigem quer, qual ente autónomo, é ver-nos prostrados, vazios do passado angustiante e cheios de um futuro diferente.
A vertigem é desconcertante, porque destroi os nossos preconceitos, deixa-nos nus tal como nós somos, entregues a um sorriso desmedido e que pode bem não ter fim, rendidos ao abraço diferente de quem nos viu a alma, de quem participou na nossa tontura.
Aí a vertigem é morrer e renascer ao mesmo tempo, é chorar e rir de uma só vez, é sentir para existir.

Eugénio Rodrigues – 24.03.05
(foto de Mario Junior)

Crónica Filme - Mar Adentro



MAR ADENTRO

“A vida é um sonho rodeado de morte”.
Não conhecia Alejandro Amenábar nem tão pouco sei das suas orientações filosóficas, mas acredito que, de alguma forma, esta citação de Nietzsche, um Filósofo espantoso, esteve presente no seu espírito, pois esta ideia é muito do que o filme “Mar Adentro” nos traz.
Obviamente que a Eutanásia não se resume ao suicídio assistido, à morte... Seria demasiado redutor abordar esta temática apenas por este prisma e Amenábar soube-o fazer quase na perfeição.
Ramón Sampedro (Javier Barden) é um homem que deixou de viver. Um tetraplégico que não suporta estar preso a uma cama e no entanto, “não quer ver o Mar”. É alguém que sofre de tal forma que chora rindo. É alguém que escreve com a boca, numa letra que lhe vem do coração, uma poesia que lhe salta da alma. Escrever é parte do que ele ainda tem. E escreve porque escrever é sofrer, é viver, é fugir à indiferença e ao mundo dos rostos iguais.
Mas Ramón também voa, voa para onde a imaginação o leva, sem limitações ou barreiras, sem doenças nem fronteiras. A sua imaginação é uma festa que jamais poderá terminar, que o leva “Mar Adentro”, que o leva a Amar.
Nisto, este filme é sumptuoso, onde não falta uma banda sonora escolhida a dedo pois ouvimos Wagner, o tema Nessum Dorma e até música Celta composta pelo próprio Amenábar. É uma espécie de grito melancólico que nos traz à memória “BraveHeart” e “Michael Collins”, e que nos arrepia profundamente à medida que nos vai tocando.
Julia (Bélen Ruedas) é uma Advogada que sofre de uma doença degenerativa e que ao conhecer Ramón acaba por dar um sentido diferente ao que resta das suas vidas. Eles são a prova de que o Amor existe e subsiste mesmo nas condições mais adversas e faz-nos perceber que se ama ou não se ama, muito para lá do que o racional nos ensina ou nos trava. Julia acaba por conhecer a poesia de Ramón e sofrer com ela, dando origem à obra “Morrer para viver”.
Rosa (Lola Duenas) é uma mulher simples, que passa um pouco ao lado do filme mas que encarna, para mim, a personagem mais marcante. Esta mulher “sencilla” é alguém que Ama, acima de tudo, acima de ela própria. É alguém que é capaz de nos mostrar que o Amor também se mede na solidariedade dos pequenos gestos, em querer dar algo quando já nada temos, em sentir-se útil ao ponto de apenas se sentir feliz quando o outro se sente feliz. Rosa encarna o Amor supremo de entregar a Alguém, neste caso a Deus, aquele que mais amamos. Amar é respeita-lo, é deixa-lo ir porque ele assim o quer. E é a sentir e a aceitar este Drama que Rosa dá a sua maior prova de Amor.
Meus amigos, este é um filme de pequenos pormenores e são estes que o fazem muito bom, até porque “Deus está nos detalhes”. Por exemplo, quando Ramón revê os melhores momentos da sua vida, através dos olhos de Julia que folheia fotografias dele, vemos uma em que ele está com o seu cão. Ao fazê-lo, Amenábar elege os animais como seres que merecem amor e respeito, principalmente para aqueles que os matam para “vestir Rainhas”.
A despedida é muito dura. A despedida é duríssima. Tão comovente que só nos apetece gritar para o ecrã e tentar demover Ramón. É impossível controlar as emoções pois esta é a “pedra de torque” do filme.
A fúria espanhola, a forma apaixonada como eles sentem a vida, o humor mesclado de dor, a simplicidade e a expressividade está toda na tela.
Depois de Inarrito, vale a pena conhecer Amenábar, isto para quem não o conhecia, claro está. Este foi o melhor filme estrangeiro do seu ano consagrado por Hollywood e se não o viram, aconselho-vos vivamente. Eu dar-me-ei o presente de o ver outras vezes, tal como o fiz com o “21 gramas” de Inarrito.

Eugénio Rodrigues - 06.03.05
(foto de Rosalina Afonso)

Tuesday, April 18, 2006

Querer ser quem sou


Querer ser quem sou

O mar me amassa
Um barco me trespassa
ardor que me desgraça
de ser quem sou
pelo tempo em que já não estou.
Pilares que norteiam
como lanças que odeiam
danças de desejo
febril e insano ensejo.
Imagens à contraluz
olhares de quem me reluz
ânsias de me amarem
medos de me trocarem.
Horizonte oblíquo de um futuro profícuo
de uma vez esquecido
para sempre perdido
da vida escondido.
Fénix de paixão
Rubor de emoção
Beleza e delicadeza de quem não tem certeza
de querer ser quem sou
pelo tempo em que já não estou!

Eugénio Rodrigues
(foto de autor desconhecido)

Adormecer ou esquecer


Adormecer ou esquecer

Os lençóis prendem-me à noite e o escuro do quarto entra-me pelos meus sonhos. Começo a perder a sensibilidade das pernas e vou saindo do corpo que fica esquecido nas profundezas da cama.
Lentamente a cabeça começa a girar e a misturar sensações com visões, deixando-me sem saber bem onde estou e o que sinto.
Sinto que me levo para longe, que me carrego para onde tudo se esconde ou onde finalmente a alma pesa menos que a lagrima.
Começo a sentir que deixo a frieza da vida para me encontrar com o yen e o yang do meu espírito. Só evacuado de mim encontro o meu equilíbrio que teima em se ir embora sempre que o sol nasce. Vou, sinto-me a ir sem sair da travesseira, envolto num brilho que me permite pensar se o meu futuro está nos meus sonhos ou se são estes que nunca sairão de um tempo distante...
A luz vai enfraquecendo como uma chama sem ar, como um pirilampo sem néon, até não sentir mais nada nem ninguém ao meu lado.
Fecham-se os meus olhos ao mesmo tempo que retenho a íris de outro olhar que não o meu, que me segue as pegadas e me guia as passadas até à fonte que me sacia a tranquilidade. É um olhar tão belo e cintilante que me faz desejar nunca mais acordar. Deixar-me levar pelo sonho e não mais voltar para que eu possa sempre guardar o sorriso e a ternura que me abraçam o coração e o alento.
Ah torpor que me levas a consciência mas não a dor. É que essa, mesmo fugindo do meu corpo, não se esquece da minha alma.
Daí a pressa em deixar-me cair na secreta esperança de que o dormir materialize o sonho e faça renascer ainda que na Terra do Nunca, ou quando muito, enquanto de mim estiver escondido... fechado numa flor!
Eugénio Rodrigues
(foto de Eugénio Rodrigues)

Monday, April 17, 2006

Longe Demais


Longe demais...

O leito já não me descansa
Já não me traz a bonança
Pelo contrário, devolve-me sombras antigas
Memórias que pensava já perdidas.

O Tempo, com quem vou conversando
É o meu fiel companheiro que regista os meus ecos
E anui calado às palavras que esqueci.

Sinto-me esvaído em mim
Destituído de quereres
Seco de emoções e de uma saudade indesejável
Como se tivesse mergulhado numa insónia interminável.

A vida parou com a tormenta
A Lua deixou de me sorrir
E já nem o Sol me alimenta
No meu sonho caio e me deixo ir
Na minha Solidão embriagante desmaio.

Sem que tenha forças sequer para reagir
Quero e espero por submergir
Respirar cada vez mais em vão.

Sem que tenha forças sequer para tirar os olhos do chão
Vou ficando dormente e sem imaginação
Cada vez mais inerte e distante.

Sem que tenha forças sequer para estar triste ou descontente.
Tento ir para o horizonte onde sempre quis estar
Mas é longe demais, mesmo para o meu olhar.

Vou embora
Não sei para onde nem se também vais
Apenas que vou para longe
Onde tudo é longe demais...

Eugénio Rodrigues
(foto de Rosalina Afonso)

Thursday, April 06, 2006

Gotas Indecifráveis


Gotas indecifráveis

Gotas nascem, gotas caem, gotas morrem,
Torrentes matam, os mares consomem.
As gotas da vida, os prismas do arco-celeste
Os reflexos da Luz, as paranóias reveste.

As gotas são meigas e sensíveis
Mas destroem o que o coração edifica
Pé ante pé, as gotas de raiva vencem
As marés fugidias de felicidade.

As gotas desfeitas por moinhos de ventania
Quais monstros invisíveis que fulminam Dulcineia
A amor foge entre a bruma espessa e ambígua
Desaparece na neblina confusa e iníqua.

O Orvalho da madrugada vinga o despertar
O Sol transforma as gotas da esperança
Em vida, em ar, em alento de bonança
Renasce a vontade, a força, o desejar.

A Lua traz a noite num véu de luar
Revolve a tristeza e vence a resplandecência
Consome o calor e extingue o fio da essência
Em gotas de sangue que gelam o ousar.

A valsa vai lenta, em notas surdas e fugitivas
Na melodia vislumbram-se fotos tristes e tremidas
A letra está morta, as palavras vazias e sentidas
Cantos de Ilusões, Fados amargos e Odes confundidas.

As Gotas escorrem pelo vidro enxuto
Num dia de sol, numa hora de luto
Caem do beiral numa espiral dormente
Deslizam no rosto numa realidade dolente.

As Gotas tocam o chão seco de amor
Esmagam o pó e desfazem o bolor
Desaparecem na terra esvaída de dor
Esvaem-se de pureza na transparência da cor.

As Gotas despertam a necessidade doentia
De desejar o amor qual acto de rebeldia
Fugir da miragem que espevita a alento
Adormecer da vida que incita o tempo.

Afana as Gotas que constróem o semblante
Que fazem sonhar pela salvação desesperante
Limpa a maquilhagem que ilude a presença
Desfaz o engodo e reassume a indiferença.

As Lágrimas são gotas de desespero
São folículos de alegria descontrolada
São pingos de amores atraiçoados
São prazeres ocultos e endeusados.

Secam-se as lágrimas, esquecem-se os prantos
Acabam-se as Gotas, Requiem da alma
A frieza transforma os recantos em sorrisos
Fortalece os amargos e afana os esquecidos.

Eugénio Rodrigues
(foto de Rosalina Afonso)

Pierrot


Pierrot

Nasci ou antes, tornei-me visível...!

Começo desta forma os "Post's" do meu Blogger.
Não posso dizer que nasci pois o meu espirito já existe há muito tempo, tal como a minha consciência que me faz sentir mais do que viver, que me faz olhar onde por vezes nada vejo, que me faz arrepiar sem que sinta frio, que me faz entender mesmo quando nada percebo e acima tudo, que não deixa que a vida me passe ao lado sem que a agarre e lhe pergunte o que ela quer de mim.
Não pretendo ser pretencioso de me assemelhar a algum pseudo intelectual nem tão pouco quero ser porta voz das banalidades do dia-a-dia. Apenas desejo tornar-me visível, como que ganhar carne e osso, para enfim encontrar e perceber que, afinal, tal como eu, muita gente teve um dia, o ímpeto de desenhar o rosto da sua alma no espelho.Qual Pierrot, resolvi finalmente vestir-me e pintar-me para dar e receber a "lágrima" e o "sorriso" que definem a nossa fugaz existência.
Espero gostar de todos vocês...!