Pierrot

My Photo
Name:
Location: Porto, Portugal

Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Friday, February 06, 2009

Humanos, esses seres tão estranhos!



Homens, esses seres tão estranhos!


Meus amigos Felinos, esta é uma carta aberta que vos deixo para que de alguma forma possamos entender, se é que é possível, os Homens e o que eles fazem no nosso mundo.


Desde que me conheço e por certo, como muitos de vocês, vivo num armazém velho.
O meu dia é muito completo e pouco tempo livre me sobra para outras coisas. Entre saltar de caixote em caixote, brincar com uns amigalhaços que nasceram ou cresceram comigo, dormir num sofá gasto, ainda tenho de convencer uns senhores, muito simpáticos diga-se, a darem-me de comer todos os dias. Tenho pena de não os poder ajudar mais, mas acho que a minha companhia para eles, é suficiente. Noutro dia até lhes ofereci um ratito. Ficaram todos contentes. Estranho... os ratitos não valem nenhum, mas enfim, vá se lá entende-los. Se gostam de bocados de metal redondo, papeis rectangulares e até coisas grandes com rodas, não me admira que fiquem contentes por lhes caçar um rato.


Mas estava eu uma lua destas, no mesmo sitio do costume e na minha azafama diária, quando pelo jantar, os senhores meus amigos receberam outros senhores. Traziam umas caixas em plástico e outras em grade. Puseram a minha comida dentro da grade e depois quando lá fui, prenderam-me, passando-me de imediato para as outras caixas. Achei tão estranho aquilo, e até me cheguei a assustar, mas vá-se lá perceber o que vai na cabeça dos Humanos. Não tardou estavam a tirar-me da caixa, num sitio diferente do meu armazém velho. Cheirava aquele liquido que me tentam por nos olhos e que eu detesto. Depois não me lembro. Sei que senti uma picada e deu-me o sono. É estranho pois não me costuma dar o sono aquela hora, mas devia ser da agitação que me cansou. É, devia ser...


Quando acordei, senti-me bem, mais tranquila até do que quando entrei. Tinha era uma costura na barriga e um cheiro ao tal liquido (será que os Humanos bebem daquilo?) e num ápice, estava de volta ao meu lindo armazém. Achei-o um pouco mais desarrumado, mas isso é natural digo eu, pois estive fora umas horas. O senhores lá estavam, simpáticos como é habitual e com a comida que eu os convenço a darem-me, em troca da minha amizade. Creio que isto é algo que resulta estranho entre os próprios humanos, mas connosco funciona.
Hoje já não lutamos pela comida uns com os outros e até já toleramos mais amigos dos nossos. Não nos ferimos tanto e por isso também não adoecemos com tanta facilidade.
Engraçado... pergunto-me porque não poderão ser assim os Humanos?


Bom, esta é como vos disse, uma carta aberta a todos vós, para que percebam um pouco melhor aqueles a quem damos companhia e o que por vezes nos fazem a nós. Basicamente eles são uns porreiraços, só que ainda não o perceberam. Pudera, também andam aqui só há uns biliões de luas... ainda é cedo.


Ah, eu sou a ATCHIM. Chamam-me assim porque andava sempre com os olhos remeladitos e a fungar. Volta e meia espirrava e tal e vai daí, o nome.
Não liguem se fizerem o mesmo convosco. Eles gostam de por nomes a tudo... coisa de Humanos!


Eugénio Rodrigues, Fevereiro 2009
Homenagem à Associação Catus Porto e ao seu meritório voluntariado
Fotografia de Gonçalo A. Dias
Sugestão musical: Rui Veloso – Pequena dor