Vem e vai
Vem e vai
A coisa vem e vai
Como o vento que num dia nos bate no rosto
Ou como a gravidade da razão e da moral que nos derruba
Como a ideia que num ápice nos faz sorrir e renascer
Ou como no pesadelo que nos reduz ao tamanho da nossa insegurança
Ruído estridente que nos corta a respiração
Ou Som abafado que enrouquece o violino.
A coisa vem e vai
Como a alegria de conseguir ver o desabrochar de uma flor
Ou como a tristeza de ver cair um olhar
Como um objectivo está lá no fundo e nos agarra a mão
Ou como um sonho que ganha a forma errada
Como uma sombra que foge de nós próprios
Ou como a vergonha que cora sozinha.
A coisa vem e vai
Como o ânimo que renasce de tempos a tempos
Ou como o desalento que nos puxa o braço
Como o desgosto que não se explica
Ou Como o sol que teima sempre em brilhar
Como a amizade que nunca se consegue esquecer
Ou como a solidão que se acaba por desejar.
A coisa vem e vai
Como a musica que nos muda o espírito
Ou como a escuridão que emudece os pássaros
Como a Diáspora lusitana que teima em nos fazer grandes
Ou como a pequenez da mente que não arranja palavras para se explicar
Como o bater singelo e afinado de uma tecla de um piano
Ou como a lágrima que cai de tempos a tempos.
A coisa vem e vai
Como os tempos que não queremos deixar fugir
Ou como a estrela que cai dos céus e de vez se apaga
Como o respirar que finalmente se detém
Ou como uma tatuagem que quer gritar e ganhar vida
Como a fotografia que teimosamente não para de nos manter vivos
Ou como as horas em que nada queremos escutar.
Vá, mostra-te, destino miserável qual ave de rapina...
Ou preferes mais uma vez esconder-te na minha tristeza galopante?
De ninguém não queremos mais nada
De nada não queremos mais tempo
Do tempo não queremos a lembrança
Da lembrança só queremos o esquecimento
Do esquecimento queremos permanecer para a eternidade
Porque o que é eterno afinal, vem mas já não vai!
Eugénio Rodrigues Setembro 2009
Foto de Eugénio Rodrigues
Sugestão musical Soap and Skin – Cynthia