Pierrot

My Photo
Name:
Location: Porto, Portugal

Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Tuesday, November 27, 2007

Um Eu sem sombra





Um Eu sem sombra


Eu sou o teu CORPO de jasmim
Não te conheço mas estás em mim
Não sei bem o que cá dentro temos
Só pressinto que nos queremos.

Sinto o teu aroma e a tua doce aragem
Que se vai e não me deixa uma só miragem
Está tudo tão certo e tudo tão errado
Tudo tão nítido e tudo tão misturado.


O que é, o que diz, o que sente que se desfaz?
O que será de ti se nem sequer me consigo definir?
A quem pertences, com quem te queres confundir?
A quem sorris e de quem é teu rosto fugaz?


Desesperado, alentado ou simplesmente desatento
Fazes-me sentir que nunca me escondo e te pertenço
Pensas como eu e como tu me despeço
Faço-te fugir porque não me conheço.


De dentro para fora da mente
Como uma convulsão ardente
Será que são moinhos de areia ou de vento
Ou desejos incontidos de uma vida decadente?


Bates-me, esperneias e gritas silenciosamente
De uma forma sossegada, sensível e paciente
Consegues medir a distância que já não nos separa
A batida do coração que se confunde e nos amarra.


Que se cruza em linhas rectas de um circulo por definir
Que se esbate no beijo que não sai do sonho e do devir
Talvez tu queiras, talvez eu te fuja por algo que me deu
Talvez tenhas receio ou já não sejas mais que o meu “Eu”.


Eu sou o teu ESPIRITO expurgado de despeitos
O Eu que existe sem regras ou preconceitos
O ser que anseia por ficar para sempre um só
Aquele que tu anulas sem piedade nem dó.


Consciência livre e rebelde,
Coração que rebenta a cada voo picado,
Que renasce a cada abraço marcado
Abre os braços, respira e recebe.


Não sinto nada pois estou completamente vazio
Saí de mim, finalmente deixei-te corpo meu
Abandonei-te á sorte do vil destino que pereceu
Troquei as tuas dores pelo meu eterno desvario.


Até o fado se ri dele tal é o seu desnorte
Cambaleia no escuro, errante e ferido de morte
E faz-me lembrar o que eu passei com ele
Ou antes, o que eu perdi por causa dele.


Morre corpo fétido que a ninguém dás prazer
De ti não sinto pena ou misericórdia sequer
Pois é pelo que sou que de mim têm gosto
E não pelo que pareço ou até pelo meu rosto.


Para ti corpo, adeus, pois de novo nasci
Posso ser a criança que ri sem preconceito
Posso ser quem eu sempre pretendi
Tendo o sonho e a minha vontade a preceito.



Agora vivo pelo prazer de nome não ter
Pela alegria de já não ser nem de viver
Por uma imagem no espelho para rever.
Serei apenas a essência que voltou a nascer



Eugénio Rodrigues

Foto de Rosalina Afonso

Sugestão Musical - Keane, Try