Imútavel

Imutável
Hoje não trago nada comigo.
Porque me sinto imutável, não tenho nada para vos dar que não seja mais do mesmo.
Queria dar-vos o meu sorriso numa palheta com as cores do arco íris.
Queria dar-vos uma palavra bonita com acordos de uma bonita sinfonia.
Queria dar-vos uma alegria do tamanho dos vossos sonhos, mas hoje não consigo, porque estou vazio.
De repente, eis que se escapa uma furtiva lágrima pelo rosto...
De um pulo me entusiasmo e renasço.
Será paixão, será dor, será alegria, será amor?
Não, faz frio e a lágrima mais não é que um cristal da íris!
O peso do meu corpo regressa lentamente às costas da cadeira,
E a minha cabeça gira para este céu azul que me escapa...
Foco a visão num bando de pássaros que lá bem alto flutuam,
Como estrelas que cruzam o imaginário.
Enquanto as mãos desenham no ar linhas de esperança,
De braços esticados em busca de algo que me escapa...
Aqueles raios de sol que teimam em brilhar por entre os dedos.
Todos nascemos para brilhar um dia,
Todos vimos para vencer num momento inolvidável,
Basta que acreditemos que podemos ouvir a nossa música...
Porém, hoje sinto-me imutável, afónico de sons e cinzento de tons
Qual cometa sem cauda efervescente.
E não me perguntem porquê pois vos direi
Simplesmente... porque sim...!
Eugénio Rodrigues, Janeiro 2007
Sugestão musical - A. Bocelli & M. Borsato, Because We Believe.
(foto de Rosalina Afonso)