Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Tuesday, January 30, 2007

Imútavel



Imutável

Hoje não trago nada comigo.
Porque me sinto imutável, não tenho nada para vos dar que não seja mais do mesmo.
Queria dar-vos o meu sorriso numa palheta com as cores do arco íris.
Queria dar-vos uma palavra bonita com acordos de uma bonita sinfonia.
Queria dar-vos uma alegria do tamanho dos vossos sonhos, mas hoje não consigo, porque estou vazio.

De repente, eis que se escapa uma furtiva lágrima pelo rosto...
De um pulo me entusiasmo e renasço.
Será paixão, será dor, será alegria, será amor?
Não, faz frio e a lágrima mais não é que um cristal da íris!
O peso do meu corpo regressa lentamente às costas da cadeira,
E a minha cabeça gira para este céu azul que me escapa...
Foco a visão num bando de pássaros que lá bem alto flutuam,
Como estrelas que cruzam o imaginário.
Enquanto as mãos desenham no ar linhas de esperança,
De braços esticados em busca de algo que me escapa...
Aqueles raios de sol que teimam em brilhar por entre os dedos.

Todos nascemos para brilhar um dia,
Todos vimos para vencer num momento inolvidável,
Basta que acreditemos que podemos ouvir a nossa música...
Porém, hoje sinto-me imutável, afónico de sons e cinzento de tons
Qual cometa sem cauda efervescente.
E não me perguntem porquê pois vos direi

Simplesmente... porque sim...!

Eugénio Rodrigues, Janeiro 2007
Sugestão musical - A. Bocelli & M. Borsato, Because We Believe.
(foto de Rosalina Afonso)

Tuesday, January 23, 2007

Transparente




Transparente, nu, entregue!

Faz frio mas o frio é bom.
O arrepio dá-nos a sensação de vida, faz-nos agarrar ao calor que tanto desejamos e nos faz sentir que apesar de desconfortáveis, essa sensação também consegue ser agradável.

O frio é leve, puro e alvo, tal e qual como a nossa alma. Pode ser delicado, entorpecedor e obriga-nos sempre a recolhermo-nos sobre nós mesmos, mais do que a qualquer coisa.

O frio é tímido.
Vai percorrendo lentamente os nossos cabelos, o nosso rosto e os nossos membros, até que se entranha bem fundo, em todos os poros, paralisando-nos, e ainda assim, deixando-nos a lucidez para escaparmos de aquilo que não queremos realmente fugir.

O frio cola-nos os Olhos no chão, olhos que procuram o segredo e mãos hirtas que não querem tocar o desejo.
Fechados em nós e encolhidos pelo ensejo, recolhidos pela nudez mas perfeitos no amor.

Delicado, sincero e verdadeiro.

Eugénio Rodrigues, Abril 06
(foto de autor desconhecido)

Monday, January 15, 2007

Aborto, sim ou não?

Hoje não vos escrevo.
Antes peço-vos que escrevam.
O tema é o mais presente, ou seja, o Referendo sobre o Aborto a ter lugar em Fevereiro.
Mesmo sendo uma matéria complexa, arrisco-me a pedir a vossa opinião, até porque não me acho absolutamente decidido sobre a questão.
Aborto, sim ou não?
Porquê?
E em que condições?
Eugénio Rodrigues

Tuesday, January 09, 2007

Crónica de Filme Babel





BABEL

Três mundos distantes que giram num só, três civilizações diferentes unidas por um destino, três tempos que correm sozinhos até se encontrarem, tudo mesclado numa arte quase única de criar um filme.

Iñarrito traz-nos à irís três realidades tão distintas entre si, quer porque se tratam de culturas tão dispares, quer porque aborda inúmeros problemas sociais que estão sempre presentes, independentemente de quem os vive.

Num filme sem que se tenha verdadeiramente um principio, meio ou fim, somos “despejados” no meio de uma história que já por si se enreda noutras, com analepses frequentes e passagens de planos absolutamente incríveis.

Um casal americano que passeia em Marrocos à procura de uma felicidade perdida, uma família marroquina que só quer sobreviver, de uma emigrante ilegal que se vê mergulhada num problema que não pode evitar, de uma surda muda que só quer ser “normal”, da ausência materna, da crise conjugal, enfim, tantas coisas que contactamos no dia a dia.
Como que metidos no meio de tudo isto, conseguimos flutuar entre a realidade sociológica do 3.º mundo, dos mexicanos, dos países onde há tudo e daqueles onde nada temos senão a solidariedade humana.

A pena de Iñarrito está bem presente neste filme, que sem ser a sua master piece, tem muito de 21 Gramas na forma de construir o enredo e muito de Amores Perros na forma como vive todos os sentimentos, como sofre e nos faz sofrer, quase angustiados do principio ao fim.
Lindo na cor e soberbo na banda sonora que toca os sabores da América Latina, da África e da Ásia. Deste género, é das melhores bandas sonoras que já escutei, passando para segundo plano actores como Brad Pitt ou Kate Blanchet
Um filme sofrido a não perder.

Eugénio Rodrigues, Janeiro 2007

Wednesday, January 03, 2007

Querer ser quem sou



Querer ser quem sou

O mar me amassa
Um barco me trespassa
dor que me desgraça
de ser quem sou
pelo tempo em que já não estou.

Pilares que norteiam
como lanças que odeiam
danças de desejo
febril e insano ensejo.

Imagens à contraluz
olhares de quem me reluz
ânsias de me amarem
medos de me trocarem.

Horizonte oblíquo
de um futuro profícuo
de uma vez esquecido
da vida escondido
e para sempre perdido.

Fénix de paixão
Rubor de emoção
Beleza e delicadeza
de quem não tem certeza
de querer ser quem sou
pelo tempo em que já não estou!

Eugénio Rodrigues
(foto de Jorge Garcia)