Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Thursday, September 28, 2006

Era uma vez...




"Era uma vez" é um poema que deixo dedicado a todos aqueles que, por uma vez, se deitaram com uma lágrima por um sonho que se desfez, por um sonho que se construiu, por um sonho que se viveu... sem arrependimento!

Era uma vez...


Era uma vez um Sonho polido

Que voou para longe do seu dono

Que se esfumou da lareira dos sentidos

Que desapareceu com a nuvem do Outono


Não deixou marcas para trás.

Nenhum rasto para ser seguido

Ou paradeiro para ser encontrado

Para sempre na vastidão foi perdido


Quis ele sofregamente encontra-lo

E uma quimera perscrutou nos suas memórias

Iniciando uma árdua e incansável cruzada

Por entre as brumas dos íntimos desejos


Buscou no tempo e nos seus desígnios

Mas o Sonho há muito havia passado

Já não era o mesmo presente querido

E o futuro a outros estava dado


Revolveu todos os Bosques e Estepes

Perguntou às Arvores e bucólicas Giestas

Mas estas só tinham olhos para os Pássaros

Que lhes traziam de volta as Primaveras


Perguntou aos Pássaros se sabiam do seu Sonho

Se ele fluía pelas suas plumagens macias

Mas estes só cuidavam de sentir os Ventos

E da longa jornada que em breve empreendiam


Então sussurrou aos sete Ventos

E uma vez mais indagou do seu Sonho

Mas estes só lhe traziam novas dos Cerros

E do manto de neve que os esposava


E a Montanha respeitável e majestosa

De muitos sonhos já ouvira balbuciar

Todos diferentes nas cores e imagens

Todos iguais na vã esperança a olvidar


Então acercou-se da nobre Montanha

Das suas pedras e dos seus resquícios

E errou pelas grutas mais recônditas

E iluminou todas as sombras e precipícios


Mas esta, imponente e altiva

Só lhe falou dos seus Riachos

Pois estes eram os sinais de vida

Os filhos que brotavam do seu regaço


Mergulhou então na correnteza dos Riachos

Sentiu a textura e o vigor da água fria

O borbulhar que cortava o seu corpo

E a leveza que pelos seus dedos escorria


E perguntou ás ondas se do seu Sonho sabiam

Mas estas jocosa e lentamente lhe fugiam

Por entre o verde musgo e as lisas pedras

Procurando o Mar errante e as suas aguarelas


Então o Mar foi o seu séquito

As suas marés e as finas areias

Hoje com as dunas resplendorosas

Amanhã pela madrugada desfeitas


Ao Mar urrou pelo seu Sonho

E os ventos o levaram absorto

Para longe de si próprio

Para o ermo do seu corpo


E as Ondas lhe revelaram no seu ardor

Que o seu sonho jamais o havia abandonado

Antes jazia no seu âmago desterrado

Por uma vida sem mudança nem fulgor


E então se fechou o ciclo vacilante no Mar

Sem que nunca tenha começado ou acabado

Porque nem Homem nem destino podem matar

Aquilo que já existia ainda antes de ser sonhado.




Eugénio Rodrigues Verão 2004
(foto de Nightqueen - the sunglow)



Saturday, September 23, 2006

Meu Amigo!




Meu Amigo


Meu Amigo... eu não sou o que pareço.

O meu aspecto exterior mais não é que um traje que trago posto.

Um traje feito cuidadosamente, que me protege das tuas perguntas, e a ti, da minha negligência.

O “Eu” que há em mim, meu amigo, mora na casa do silêncio e ali permanecerá pera sempre, inadvertido, inabordável.

Não queria que acreditasses no que eu digo nem que confiasses no que eu faço, pois as minhas palavras não são mais do que os teus próprios pensamentos, em voz alta, e os meus actos são as tuas propria esperanças em acção.

Quando dizes: “O vento sopra para oriente”, digo, “sim, sempre sopra para oriente”, pois não quero que saibas então que a minha mente não mora no vento, mas sim no mar.

Não podes compreender os meus pensamentos navegantes, nem interessa que os compreendas. Prefiro estar sozinho no mar.

Quando é de dia para ti, meu amigo, é de noite para mim e apesar disso, falo da luz, do dia que dança nas montanhas, e da sombra purpura que se abre de par em par pelo vale, pois não podes ouvir as minhas canções sobra a minha escuridão, nem podes ver as minhas asas que se agitam contra as estrelas e não me interessa que oiças e vejas o que se passa comigo. Prefiro estar só com a noite.

Quando tu sobes ao céu eu desço ao inferno. A ainda me chamas através do golfo inultrapassável que nos separa: “Companheiro, Camarada!”. E eu respondo-te: “Companheiro, camarada!”, porque não quero que vejas o meu inferno. As chamas cegar-te-iam, e o fumo sufocar-te-ia. E gosto do inferno, amo-o ao ponto de não deixar que o visites. Prefiro estar só no meu inferno.

Tu amas a verdade, a beleza e a justiça, e eu, para te agradar digo que está bem e simulo amar estas coisas. Mas no fundo do meu coração rio-me do teu amor por estas entidades. Apesar disso não deixo que vejas o meu riso, prefiro rir só.

Meu Amigo, és bom, discreto e sensato, és mais: és perfeito. E eu, pela minha parte falo contigo com sensatez e discrição, mas... eu estou Louco.

Só que disfarço a minha loucura.

Prefiro estar Louco sózinho.

Meu Amigo, tu não és meu Amigo. Mas, como fazer que o compreendas?

A minha senda não é a tua senda e apesar disso, caminhamos juntos, de mão dada.


KHALIL GIBRÁN - O louco 1918

Este é o meu tributo a um dos escritores que mais admiro. Este texto é um Hino à amizade entre os Homens, por mais diferentes que sejam.

Foto de autor desconhecido

Wednesday, September 20, 2006

Preciso sentir






Preciso Sentir

Sinto que preciso de paixão
Sinto que preciso Amar
Sinto que necessito de perder o ar,
De perder a cabeça e a razão,
De perder o apetite e a vontade para tudo,
Senão para sonhar contigo.

Sinto que sinto falta de perder o tempo,
De perder as horas esquecido num sorriso,
Algures e para sempre num olhar perdido,
Pausado por um pestanejar ingénuo e lento.

Sinto que me falta o latejar do coração
Sinto que me falta um ardor no peito,
Algo que me embrulhe o estômago a preceito
Algo que me que traga de regresso a emoção.

Assim, sinto-me como um Rei sem trono,
Como um peregrino sem trilho ou destino
Como alguém que precisa de olhar para além do corpo,
De perceber para além do semblante amorfo,
De ver mais do que a preto e branco,
De sentir a falta de uma carícia apaixonada,
De ansear pela hora de estar com a amada,
De tremer quando tiver de “te” encontrar,
De gaguejar sempre que “te” deparar.

Sinto saudade de suspirar
Sinto saudades de passar noites em branco,
De revirar e voltar a deitar
Sinto falta de me arrepiar com uma musica de embalar,
De verter uma lágrima com um filme de arrebatar
Sinto falta de me sentir triste por estar longe de ti,
De me entusiasmar com o teu “Olá”,
Com um simples olhar de soslaio,
Relampejado de uma timidez singela e exemplar
Sinto falta de sofrer no “teu” lugar.

Sinto porque sinto, porque quero,
Porque espero e desespero,
Simplesmente por Sentir.
E sinto acima de tudo,
Porque preciso Sentir.

Eugénio Rodrigues 2005
(foto de Rosalina Afonso)

Friday, September 15, 2006

O Principezinho e a raposa





À procura dum amigo

Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.

(...)

- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...

(...)

- O que é que "estar preso" quer dizer - disse o principezinho?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...

(...)

- Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
(...)

- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.

(...)

Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...

(...)

E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...

(O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry)

Um dos textos da minha vida!
Ainda hoje o sigo como uma espécie de estandarte...
E vocês, o que acham?
Qual o texto da vossa vida?
Qual a mensagem da vossa vida?

Eugénio Rodrigues

Monday, September 11, 2006

A noite sempre acaba num raio de Sol




A Noite sempre acaba num raio de Sol

A noite caiu e com ela veio o escuro
Que nos esconde de todos excepto de nós mesmos
Que nos afasta do mundo e nos puxa lentamente para o fundo
Qual moinho desgovernado pelo vento e pela vontade.
A noite cai e com ela vem o sossego de quem nada mais pode fazer
Ou o desepero de quem não quer viver para sofrer.

Quando a noite cai uma esperança se levanta
De que o dia de amanhã seja melhor que o sonho de hoje
Melhor de que a crença no amor que em mim se entranha
Melhor que ter o teu sorriso e o meu olhar fixo no teu rosto
Mas a noite sempre acaba num raio de sol
E acredita que os teus dias chegaram
Deixa de os riscar no calendário
Como dias normais e anónimos
Onde ninguém pensa em ti
Onde ninguém sonha contigo.

Chegou o Dia em que no meio de uma multidão
Fixei os teus olhos e te elegi como alguém maior
Como alguém que me fez parar e respirar fundo
Nesta vida de correrias e de indiferenças.
E penso nesse dia em que nos encontramos
Onde tudo o que estava à nossa volta desapareceu
Presos a um olhar que jamais largamos
Como se de um passe de mágica se tratasse.

E de repente ficamos sós no cimo de uma falésia
Sentados num rochedo perdido no meio do mar
Amarrados a um por do sol numa praia deserta
Imunes a tudo excepto ao toque da felicidade.

Num fim de dia avermelhado e quente
Raiado pelo mesmo por do sol inesperado e dolente
Misturado com a tua estrela que ainda brilha na minha mente
Enquanto os teus lábios balbuciam palavras bonitas.

Descobrimos que somos alguém que nunca irá embora
Que partilhamos as lágrimas, pegadas e escolhos
Alguém que nos segue por mil vidas fora
E sempre com o brilho do sol nos olhos.

E a vida pode ser isto mesmo
Algures na imensidão do vazio, um sorriso de uma criança
No meio da tempestade fria, uma bonança
De quem acrecita com o coração
De que a noite sempre acaba
Com um raio de sol de paixão
Com um sorriso de esperança.
Eugénio Rodrigues - 14.02.06
(foto de autor desconhecido)

Monday, September 04, 2006

Amar...sempre Amar!




Amar

Às vezes Amar é verter lágrimas salgadas de fel
De um destino que julgamos ser de mel
Mas que depressa se desfez
Como a insanidade e a palidez
Dos moinhos de vento de D. Quixote,
Ou chama que se esvai do archote,
Castelos de areia levados pelas vagas,
Brancas, violentas e arqueadas
Furiosas porque destroem
Corajosas porque morrem
Sem nunca deixarem de chegar
A sua Praia, ao seu lugar,
Como o som cristalino do oboé
Dia após dia, maré após maré...

Amar são palavras revoltas
De partituras encantadas e soltas
Folhas separadas pela imaginação
E pedras esculpidas pelo coração.
Amar é perder sem esquecer
É perdoar sem magoar
É possuir sem tolher
É precisar sem esgotar
É desejar sem obcecar
É aguardar sem desesperar
É dar sem pedir e receber sem esperar.

Amar é ser belo e altivo
E no entanto, absorvente e destrutivo.
É não ter solução nem antídoto
Para a loucura sem tempo ou centímetro.
É ignorar as contra indicações
Listas de mágicas poções
Ideais ou livros de receitas
Dores, orgulhos e maleitas.

Amar é deixar de ser o “Eu”
Sem ter saudades pelo que morreu
E passar a ser o “Nós”
Dois corpos, duas mentes, e duas almas
Que se transportam com uma só voz.
Orquestra de instrumentos vários e errantes
Donde saem sons afinados, melodiosos e tocantes.
É tocarmos onde se escondem os segredos
E deixarmo-nos tocar sem freios nem medos
Como uma criança embalada no seu berço.

Amar é saber deixar e largar
Quando o outro assim o desejar
É entregar-nos a alguém sem demora
Mesmo sabendo que um dia se vai embora
E que no final do amor
Haverá sempre a tristeza do perder.

Amar é nunca deixar de acreditar
Que o amanhã é sempre melhor que o hoje.
É fazer com que o presente nos encha de tal forma
Que o passado nos pareça sempre longínquo
Apenas um quadro colorido
Uma foto sorridente
De um momento fugaz e vivido
Mas que não tem a paixão
Nem a intensidade do movimento
Do pulsar irrequieto do coração
Nem da lágrima contida da emoção.

Mas Amar não é nada do que se fala ou se escreve
Porque quem ama sempre sabe de uma forma dramática
Que não conhece as palavras nem a língua que o descreve
As cartilhas dos verbos, adjectivos ou gramática.
Conhecemos o sabor do beijo
O Arrepio, a angústia e o prazer
Misturado com o alívio de nada saber
Excepto que num só se quer fundir
Porque Amar é acima de tudo... SENTIR.
Eugénio Rodrigues - 2006 (poema já publicado neste blog entretanto revisto. É um dos meus poemas mais sentidos e por isso não resisti a recoloca-lo)
Foto de Rosalina Afonso