Pierrot

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Quando morrer, talvez tenha uma ideia formada sobre mim, se o destino me der esse luxo.

Monday, October 30, 2006

Crónica de Filme - The Black Dahlia






The Black Dahlia

“Nada fica enterrado para sempre!”...

Los Angeles, anos 30, onde a violência e a corrupção andavam de mãos dadas com a época dourada do glamour social.
Brian De Palma recupera um argumento de James Ellroy e transforma-o num Thriller cinematográfico dos melhores do género, misturando-lhe não um mas vários enredos tão dramáticos que se vão adensando numa trama bem urdida e escondida quase até ao final, num filme duro, rude e rocambulesco, por vezes até pesado.
A violência e o crime não tem aspas nem maquilhagem e o som dos tiros quase nos ensurdece ao mesmo tempo que o sangue parece querer saltar da tela.

“Os Homens têm a quase fatal tendência para se alimentarem dos próprios Homens!”

Dois Policias, dois amigos, Bleichert (Josh Hartnett), e Blanchard (Aaron Eckhart), personificam o bom policia e o mau policia. Dois tipos de justiça, em que os fins podem justificar os meios, ou talvez não... e onde não conseguimos deixar de nutrir simpatia e até alguma compaixão por ambos, não obstante o enredo. Um crime brutal por resolver, criminosos à solta e prioridades a ter em conta que chocam com os valores destes dois homens. Impossível separar as suas profissões das suas vidas e Brian De Palma fá-lo com mestria.
Numa tela de coloração amarelada que o torna este filme ainda mais genuíno, os Romances entrecruzados com Kay (Scarlett Johansson) e Madeleine (Hillary Swank) jogam-se de uma forma quase perfeita e embalados por uma música bem apropriada.

Ninguém é integralmente bom nem ninguém é inteiramente mau.

A vida e a circunstância fazem o Homem e as suas necessidades mais prementes moldam o seu carácter.
Não devemos nunca afirmar que “desta água não beberei” pois as emoções e os sentimentos estão em constante ebulição e muitas vezes a racionalidade e os princípios não chegam para nos mantermos à tona da vida...
Meus amigos, mais um filme que vale a pena e os prémios que já ganhou são mais que merecidos.

Eugénio Outubro 2006

Tuesday, October 24, 2006

Gotas Indecifáveis






Gotas indecifráveis

Gotas nascem, gotas caem, gotas morrem,
Torrentes matam, os mares consomem.
As gotas da vida, os prismas do arco-celeste
Os reflexos da Luz, as paranóias reveste.

(...)

O Orvalho da madrugada vinga o despertar
O Sol transforma as gotas da esperança
Em vida, em ar, em alento de bonança
Renasce a vontade, a força, o desejar.

A Lua traz a noite num véu de luar
Revolve a tristeza e vence a resplandecência
Consome o calor e extingue o fio da essência
Em gotas de sangue que gelam o ousar.

A valsa vai lenta, em notas surdas e fugitivas
Na melodia vislumbram-se fotos tristes e tremidas
A letra está morta, as palavras vazias e sentidas
Cantos de Ilusões, Fados amargos e Odes confundidas.

As Gotas escorrem pelo vidro enxuto
Num dia de sol, numa hora de luto
Caem do beiral numa espiral dormente
Deslizam no rosto numa realidade dolente.

As Gotas tocam o chão seco de amor
Esmagam o pó e desfazem o bolor
Desaparecem na terra esvaída de dor
Esvaem-se de pureza na transparência da cor.

As Gotas despertam a necessidade doentia
De desejar o amor qual acto de rebeldia
Fugir da miragem que espevita a alento
Adormecer da vida que incita o tempo.

(...)

Secam-se as lágrimas, esquecem-se os prantos
Acabam-se as Gotas, Requiem da alma
A frieza transforma os recantos em sorrisos
Fortalece os amargos e afana os esquecidos.

Eugénio Rodrigues 2005
(foto de Rosalina Afonso)

Friday, October 20, 2006

Crónica de filme - Mozart and the Whale




Mozart and the Whale

(Loucos e apaixonados)

Será que somos tão “normais” quanto pensamos...?

Será que os loucos serão tão loucos quanto pensamos que são...?

Pois é, num filme tão singelo, tão “levezinho”, tão calmo e tão relaxante, eis que deparamos com um afável e surpreendente engano, um pouco devido ao titulo português “manhoso”, ao sermos conquistados por um filme bonito que, por certo, passará despercebido às multidões dos cinemas multi-salas.
Este filme de Peter Naess trabalha um argumento que combina a comédia e o drama de uma forma tão fluente e conseguida que acabamos por mergulhar nele sem perceber ou distinguir estes planos.

Donald, Josh Hartnett, é alguém que sofre de Autismo com uma queda quase incontrolável pelos números e tem a seu cargo umas quantas pessoas que sofrem de problemas semelhantes, trabalhando com eles numa espécie de terapia de grupo.
Isabel, Radha Mitchell, também sofre de Autismo, sendo incapaz de ouvir tilintares, pelo que, numa manhã como outra qualquer, acaba por entrar na vida de Donald através desse grupo de terapia.

A paixão entre ambos nasce de uma forma inevitável, constituindo para uns, os ditos “normais” da sociedade, uma fatalidade, enquanto que para outros, os ditos “loucos de amor”, uma autêntica lição de vida e de como ultrapassar os problemas “normais” que sempre acontecem numa relação a dois.
E esta história tinha tudo para não passar de um vulgar romance, porém, vai muito para além disto.

Acima de tudo, e sem querer entrar em pormenores por razões óbvias, faz com que reflictamos sobre o conceito de normalidade e insanidade no acto de amar, dos seus dramas, dos seus encantos e dos seus medos.

Faz com que sintamos que afinal, na arte de amar, os problemas sejam tão idênticos ao ponto de nos fazer questionar sobre quem é quem neste mundo de ideias e valores sociais pré-concebidos.
Um filme com gags bastante bem apanhados e com uma banda sonora a condizer.
Recomendo vivamente.

Eugénio Rodrigues – Outubro 2006

Monday, October 16, 2006

Partir de Ti...e até mim.



Estes dois gatolas, foram dois artistas vadios que alimentei desde que aprenderam a andar. Dei-lhes algum carinho embora nunca me permitisse tocar-lhes pois queria que se mantivessem vadios e independentes. Queria que um dia pudessem partir sem que deixassem nada para trás que não uma boa memória.
E porque amar também é saber deixar partir, ainda que soframos com isso...
Já agora, eles partiram um belo dia.
Nunca mais vi os manos, Zarolho e Mia e espero que estejam bem. Este poema é uma metáfora e os gatolas são apenas um exemplo de tantas coisas na vida e por isso, este “Partir de Ti”.
Já agora, a musica que me inspirou é “Mai Piu Cosi Lontano” de A. Bocelli. Sugiro que a ouçam...
Partir de ti... e até mim!

Hoje não me consigo livrar da tua imagem
Não sei se queria que me visses assim mas é inevitável
Não sei se queria que soubesses do quanto me paralisas
Preferia apenas saber o que preferir.

Hoje não consigo deixar de imaginar o teu sorriso
De como desdobras esse rosto e pousas os olhos em mim
De como me desarmas e me fazes cair numa amnésia
De como me fazes sorrir mesmo nos meus dias de névoa.

Hoje, sempre que me perco no horizonte,
O teu olhar vem sempre ter comigo
Num mundo em que o tempo não existe
Num espaço em tudo desaparece à nossa volta.

Hoje a tua voz ecoa na minha memória
Delicada, terna, meiga e melodiosa
Eu sei que tudo foi feito para ser perdido um dia
Mas hoje, a tua imagem ficará para sempre bem junto a mim.

Hoje o dia parece-me interminável
Pois estou só, longe e sentado no meu canto
Hoje não me apetece ir para casa
Apenas sinto que não te queria perder esta noite.

Queria que a nossa vida fosse como nos filmes
Onde escolhessemos a música enquanto nos olhassemos
Onde não saboreasse apenas um fugaz momento
Mas uma vida plena de carícias e cumplicidade.

Agora, tudo o que eu consigo respirar é a tua presença
Tudo o que consigo sonhar é com o teu calor
Com algo que talvez nos una e que não deve morrer á nascença
De um olhar que já se cruzou perdido de Amor.
Eugénio Rodrigues Outubro 2004

Thursday, October 12, 2006

Segredos de uma Alma transparente





Porque hoje me sinto algo cinzento e vazio, nostálgico até... não obstante o bonito dia que me entra pela janela.
Porque às vezes acordamos assim, sem perceber bem porquê, sem alcançar porque respiramos ou porque andamos!

Segredos de uma alma transparente

A imensidão vazia de um deserto
Assola sem perdão o meu pensamento.
Olho mas não vejo.
Quero mas não desejo.

Levanto-me, respiro e sobrevivo
Mecânico, dolente e repetitivo
Qual ondas de um oceano
Que pausadamente se cospem na areia.
(...)

Despenho-me e caio das alturas
Sem esboçar a mínima resistência,
Sem agarrar os ramos de arvore,
Rendendo-me ao vil e traiçoeiro destino.

Todos nós esperamos pela nossa hora.
De nada serve desesperar.
Em nada adianta uma luz inventar,
Ou com vãs esperanças sonhar.

Quanto mais alto sonhas,
De mais alto cais.
A alegria é alucinógeno,
O seu efeito é anestésico.

A felicidade é uma triste ilusão
Que o tempo e as pessoas limitam,
Como um qualquer capricho que se desvanece,
Como a luz do por do sol que definha.

(...)
Caem estrelas do céu.
Todos os dias o sol se põe.
Os pássaros esvoaçam pelos sete ventos,
Enquanto eu tropeço na minha própria existência.

Era uma vez uma vida inteira,
Que se esfiapa como lã de uma urdideira,
Que se desfaz como areia ao vento,
Que se derrete em lágrimas de chuva.

Tu nunca me buscaste,
E eu nunca te procurei.
Sôfregos num mar de equívocos,
Afastados por uma montanha de nada.
Eugénio Rodrigues - 2003
(foto de autor desconhecido)

Monday, October 09, 2006

Cónica de filme - Volver





VOLVER

Muitas vezes Voltar custa, doí e fere pois obriga-nos a desenterrar algo que não queremos que volte a ver a luz do dia.

Algumas vezes Voltar é o único caminho para que um ciclo da vida se complete, se feche, e apague aquilo que julgavamos esquecido mas que estava lá, sempre pronto a soltar-nos a lágrima.

Raramente Voltar nos devolve o sossego que precisamos, nos oferece a lembrança de uma felicidade outrora vivida, nos faz sentir de novo em paz.

Volver é mais um filme de Almodóvar em que o Voltar está sempre presente, no amargo, no agridoce e na alegria.
Volver é uma história muito bem concebida, onde o perdão está tão perto da boca como o ressentimento.
Tão rocambulesco como naif, este argumento traz novamente à tona, as tradições rurais e tipicamente latinas, onde se mistura quase sem se dar fé, um misticismo hilariante.
Uma banda sonora lindissima e adequada onde também não faltam as cantilenas espanholas, com uma letra cheia de garra tão tipica da gana dos nuetros hermanos.

Penelope Cruz , Raimunda está sublime, quase dispensando as falas pois a sua expressividade, a sua lágrima tão solta como o seu sorriso dizem tudo.
Lola Duenas, Soledad, e a musa de Almodóvar, Yohana Cobo, a mãe de ambas, vão deslizando pelo filme com uns diálogos simples, crus e directos, ajudadas pela naturalidade que encerra no próprio filme, face à sã convivência com amigas prostitutas, amigas que fumam erva ao lado de menores, entre outras...

Caríssimos, mais um filme imperdível.

Abraços

Eugénio Rodrigues (Outubro 06)

Wednesday, October 04, 2006

Zombarias do Destino




Este post tem uma única justificação.
Queria de alguma maneira mostrar a minha revolta, ira até, com as injustiças que por vezes são inevitáveis.
No caso concreto, sinto-me profundamente incomodado com a injustiça de que um constituinte meu foi alvo, não tanto por uma má decisão judicial, mas pelos formalismos processuais que tudo fazem depender dos elementos de prova, muitas vezes em detrimento do próprio plano moral.
Para ele e para todos que vertem lágrimas de revolta sem nada poderem fazer, deixo aqui algumas palavras de consideração e solidariedade... porque eu não quero deixar de acreditar na justiça dos homens!

Zombarias do destino

Um oceano, uma tempestade.
Os sinos dobram pausadamente
Pelo tempo que por certo virá
Pelo futuro que todos temem.

Os moinhos movem-se ao longe
Erguidos em penhascos sombrios
Por uma névoa que tudo esconde
Por um vento que tudo corta.
(...)

O mar ergue-se à tua volta
Cinzento prateado e revoltoso
Sozinho como o teu espirito
E pobre como a tua alma.
(...)

As folhas caem secas
Das arvores vergadas pelo tempo
Fustigadas pela chuva
Arrastadas pelo vento.

(...)
Os sorrisos vêm de longe,
Do lado de lá do penhasco
De um lugar inacessível
Onde para ti olham de lado.

Lá, são belos e felizes.
Lá, tudo bate certo.
Lá, onde todos se encontram.
Lá, onde todos se encantam.

(...)

Vai, vai para todo o sempre.
Porque do teu mundo já não vais voltar
Deixa-te perdido nas memórias
De onde jamais queres regressar.
(...)

Mas se o espirito já se esvaiu para resistir
Escolhos não paras de encontrar
E para que tu não deixes de cair
O destino não para de zombar.

Ah, como era bom ter esperança!
Ver ao longe um fio ténue de luz.
Ver nas nuvens um afável sorriso
Que te trouxesse mais do que a lembrança.

Mas o destino se encarregou
De te tirar o ansiado paraíso
E se a outros tudo ofereceu
A ti, órfão de tudo te deixou.
Eugénio Rodrigues 2003
(foto de Bleze - Street life)